Um jeito moleque de contar nossa história

04/04/2011 21:40

Período colonial

 O fidalgo sem fidalguia...  

    A capitania hereditária do Ceará, presente de D. João III, ao descansado Antonio Cardoso de Barros, passou mais de sessenta anos abandonada. O fidalgo, nem tão fidalgo assim ignorou o precioso presente  e por todo esse tempo não tomou a menor providência no sentido de colonizar a terra cearense.  

    Em 1603, Pero Coelho de Sousa obteve de Diogo de Botelho, então Governador Geral do Brasil, a patente de Capitão-Mor com a finalidade de colonizar a capitania do Ceará. Pero Coelho, porém acabou fugindo como um coelho assustado (desculpem o trocadilho) depois de enfrentar os índios Tabajaras que habitavam a serra da Ibiapaba e foi tentar melhor sorte na barra do rio Ceará, onde ergueu uma fortificação a que deu o nome de São Tiago. Contudo, uma terrível seca nos anos de 1605 e 1606, assustou novamente Pero Coelho e desta vez era para assustar mesmo, pois muitos morreram, de fome e de sede, durante a  retirada do infeliz colonizador.

 

Os Jesuítas e os índios poliglotas...

 

 

    Em 1607 chegaram os primeiros jesuítas da Companhia de Jesus. Então os padres Luis Figueira e Francisco Pinto iniciaram o difícil trabalho de catequese dos silvícolas nas terras cearenses. Porém, nem todos os índios aceitavam os estrangeiros e os tocarijus, uma das nações mais ferozes, atacaram os infelizes religiosos numa emboscada na mata. Do ataque, resultou o trucidamento do Padre Francisco Pinto. O Padre Luis conseguiu escapar. Não se sabe os motivos da violenta ação dos silvícolas, mas é justo supor que os tocarijus não viam com bons olhos a invasão do seu país e a destruição da sua cultura.

 

     Os jesuítas, ao invés de ensinarem técnicas úteis, insistiam em ensinar, entre outras inutilidades, retórica, português e até latim. Quando os religiosos foram embora, os "índios poliglotas" voltaram para as matas menos preparados para a caça e a pesca, atividades primitivas que lhes garantiam a subsistência.

Soares Moreno não beijou a virgem dos lábios de mel...

 

 

    Nova ação colonizadora chega ao Ceará em 1612, chefiada pelo capitão Soares Moreno. Desembarcou direto na Barra do Ceará, onde já sabia existir uma fortificação, resultante da expedição de Pero Coelho de Sousa, da qual o capitão também fizera parte.  Moreno, muito habilidoso e inteligente, logo fez amizade com os chefes indígenas. Construiu  o forte de São Sebastião aproveitando as ruínas do São Tiago erguido por Pero Coelho e também uma capelinha ao lado a qual chamou de Nossa Senhora do Amparo. Era o primeiro núcleo da civilização cearense. O capitão, porém, era constantemente chamado para combater ora os franceses que invadiam o Maranhão, ora os Holandeses  que ocupavam Pernambuco e assim  de uma dessas viagens acabou não voltando mais.

 

    Benquisto,  Soares Moreno deixou muitas saudades, tanto que foi personagem do romance Iracema, de José de Alencar. A obra aliás, apesar de ser pura ficção, é, às vezes, ingenuamente, cobrada como realidade. Portanto,  o bravo capitão não beijou os famosos lábios de mel da musa de Alencar.

 

essa história continua....